Dados do Trabalho
Título
Consumo de Carnes Ultraprocessadas e Adenocarcinoma Gástrico: um estudo de caso-controle na Região Central do Brasil
Introdução
No Brasil são estimados 13 mil novos casos de câncer gástrico, dos quais 1.500 na Região Centro-Oeste. A dieta é um dos principais fatores de risco para o adenocarcinoma gástrico (AdG) e o alto consumo de carne ultraprocessadas está associado a maiores chances de AdG. Alguns ingredientes e compostos neoformados durante o processamento das carnes possuem propriedades genotóxicas. Nos últimos anos, o consumo de carnes ultraprocessadas e a incidência de AdG aumentaram simultaneamente no estado de Goiás.
Objetivo
Avaliar a associação entre o consumo de carnes ultraprocessadas e o AdG na Região Brasil Central.
Métodos
Trata-se de um estudo caso-controle, composto por 112 casos de AdG, 200 controles endoscópicos (controle 1) e 198 controles hospitalares (controle 2). Pacientes de 18 a 75 anos, de ambos os sexos foram recrutados no período de 2019 a 2022. Um questionário epidemiológico foi usado para coletar informações sociodemográficas, clínicas e sobre o estilo de vida. O consumo de carnes ultraprocessadas foi avaliado por meio de um questionário de frequência alimentar e foi calculada a média de ingestão diária e tercis de consumo: T1≤ 15,47 g/dia (baixo), T2: 15,47- 42,5 g/dia (moderado) e T3 > 42,5 g/dia (alto). As análises descritivas foram realizadas utilizando o teste qui-quadrado e exato de Fisher. As razões de chance de AdG, foram obtidas pela análise de regressão logística multivariada com intervalo de confiança de 95%. Todos os testes consideraram nível de significância de 5% (p ≤ 0,05). As análises estatísticas foram realizadas pelo software Stata. Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o parecer 3.174.666.
Resultados
Os casos tinham a média de idade de 56,3 ± 10,3 anos, 55,4% eram do sexo masculino, 45,5% com idade igual ou superior a 60 anos, 65,2% não brancos, 62% com baixo grau de instrução (≤ 8 anos), 73,3% casados, 44,6% eutróficos, 49,1% não-fumantes e 56,3% consumiam álcool. Entre os casos, controles 1 e controle 2 foram observadas diferenças quanto ao sexo, idade, grau de instrução IMC e tabagismo (p = 0,001). A média de consumo das carnes ultraprocessadas foi de 43 g/dia para os casos, 36 g/dia para os controles 1 e 33 g/dia para o controle 2. Na análise de regressão logística multivariada dos casos e controle 1, indivíduos entre 46-59 anos (OR 5,30 IC 95% 2,62-10,70) e com o consumo de carnes ultraprocessadas acima de 42,5 g/dia (OR 3,77 IC 95% 1,85-7) tiveram maiores chances de AdG. Entre os casos com controle 2, as maiores chances foram observadas em indivíduos acima de 60 anos (OR 6,61 IC 95% 2,83 – 15,45), não houve diferenças estatísticas entre os tercis de consumo de carnes ultraprocessadas.
Conclusões
O consumo de carnes ultraprocessadas acima de 42,5 g/dia foi associado a cerca de quatro vezes a chance de ter AdG. Nosso achado reforça a necessidade de orientações nutricionais na população, em particular, a limitação do consumo de carnes ultraprocessadas como estratégia para reduzir a chance de AdG.
Palavras-chave
Estudo caso-controle; Carnes ultraprocessadas; Adenocarcinoma gástrico.
Financiador do resumo
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) (2014/26897-0).
Área
Estudo Clínico - Tumores do Aparelho Digestivo Alto
Autores
Silvana Barbosa Santiago, AMANDA FERREIRA PAES LANDIM RAMOS, Diogo Nery Maciel, Ana Luísa Santos Bizinoto, Débora Vicente Minaré, Kaic Vitor Dias de Sousa Santos, Pamela Mirelle Nascimento Ferreira, Janaína Naiara Germano, Gisele Aparecida Fernandes, Maria Paula Curado, Mônica Santiago Barbosa